No silêncio de um olhar, onde as palavras se perdem na imensidão do sentir, habita um mundo muitas vezes incompreendido. Para uma pessoa autista, o luto pode ser uma tempestade silenciosa, um mar de emoções que transborda sem que ninguém veja as ondas se chocando contra as rochas.
A hiperempatia, essa capacidade ampliada de sentir o que o outro sente, pode ser uma faca de dois gumes. Ela permite uma conexão profunda com a dor alheia, mas também pode ser um peso que arrasta para as profundezas do sofrimento. No luto, essa hiperempatia pode se tornar um eco que reverbera a perda de forma tão intensa que o coração parece não suportar.
Externamente, pode parecer que a pessoa autista não está triste, que as águas de seu oceano estão calmas. Mas, por dentro, pode haver uma dor angustiante, uma luta para entender e processar a ausência que agora se faz presente. É um paradoxo de emoções, onde a falta se torna uma companhia constante.
Nem sempre é claro como agir diante do luto. As regras sociais que ditam as expressões de tristeza podem ser confusas, os rituais de despedida podem parecer estranhos, e o conforto que os outros encontram no compartilhar pode ser um enigma. Para quem vive no espectro, o luto é uma jornada solitária em um caminho sem mapa.
É importante lembrar que, mesmo que não haja lágrimas nos olhos, isso não significa que não haja um dilúvio por dentro. A compreensão e o apoio são faróis que podem guiar através da névoa do luto. E, acima de tudo, é essencial reconhecer que cada pessoa autista é única e que sua maneira de vivenciar o luto é tão válida quanto qualquer outra.
No fim, o luto no autismo é um lembrete de que, mesmo em um mundo onde se é frequentemente mal-entendido, a capacidade de amar e de sentir a perda é universal. E talvez, nesse reconhecimento, possa-se encontrar um pouco de paz no meio da tempestade.
Redator: Jonas Luiz